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05

Abril

Energia e Desenvolvimento

         A industria para crescer necessita de energia farta e a baixo custo. Não há lugar para industria competitiva onde não exista energia à vontade e barato.
        Isto nos leva a pensar um pouco a história recente de nosso país no que diz respeito ao seu desenvolvimento industrial. Até a década de 1950, a produção de energia elétrica  estava entregue à iniciativa privada, mais precisamente a empresas multinacionais. Estas não investiram na produção de energia, tanto que nos anos anteriores à década apontada e mesmo no curso dos anos 60, nem mesmo ligações residenciais eram concedidas, sem que ao usuário se exigissem a construção da linha de transmissão, com a subsequente doação de tudo à empresa concessionária, não raro prescindindo o interessado da intervenção de “pistolão” político para conseguir iluminar sua empresa ou sua casa.
        Lembro-me que em nossa cidade, para a instalação de um pequeno motor capaz de fazer girar um esmeril, havia que socorrer-se o interessado da intervenção de políticos, sem a qual nada conseguia. Não havia energia.
        O singular era que nos jornais de então, me lembro bem, no “O  Estado de São Paulo”, leitura diária em nossa casa, publicava-se propaganda das distribuidoras de energia. Por vez primeira constatava-se que o vendedor de mercadoria procurada até o desespero pelo comprador, escassa na mercado, compre publicidade de páginas inteiras do jornal, com a mensagem de que “o mister kilowat é o seu criado mais barato”.
        O que explica essa conduta? Ao meu ver era uma maneira de dominar a opinião do jornal, que desta forma defendia os interesses dessas multinacionais que operavam no setor, dizendo que o governo era culpado da falta de investimentos, por manter os preços baixos para a energia.
        Tínhamos apagões que se projetavam por cinco a seis horas diárias, e o setor estava nas mãos dos particulares, especialmente estrangeiros. É preciso restaurar a memória, para não voltar a incidir nos erros do passado.
        Recordo-me do período em que exerci a vereança na Câmara Municipal desta cidade, que teve na pessoa do Vereador Antônio Reis Vilalobos um estudioso da questão relativa à exploração da geração e distribuição de energia elétrica, demonstrando a importância da intervenção do Estado no setor, trazendo como modelo o que se fazia nos EE.UU., no projeto de desenvolvimento do vale do Mississipi, visando também a produção de energia hidroelétrica,  onde o capital é estatal, enquanto aqui os organismos financeiros dominados por aquele país impõem que o nosso Estado seja minimizado.
        Se nos Estados Unidos da América o Estado intervém e detém o controle do setor, que razões existiriam para que se colocasse o Estado brasileiro, à margem? Num país de terceiro mundo, como é classificado o nosso, o grande investidor tem que ser o Estado, posto que capitais forâneos aqui não aportam para nos desenvolver e concorrer com seus países de origem.
        Mas a verdade, nem sempre revelada, está na adoção pelo capital estrangeiro de política de preservação dos interesses de seus países de origem, visto que a produção de bastante energia poderia promover o crescimento de nossa indústria, com a conseqüente absorção de nosso  mercado interno, significando para eles o desemprego e concorrência indesejada.
        Outra realidade que decorre do desenvolvimento da indústria é a modernização da produção agrícola, causando a expansão da absorção da mão de obra e, assim, o crescimento do país.
        No entanto o modelo agora adotado, depois que o país investiu na geração e distribuição de energia, tomando capital de todo o povo,  o que causou o desenvolvimento a que chegamos em nosso país, retornamos à entrega desse nosso patrimônio aos particulares, quase sempre financiando a aquisição com recursos do BNDES, e na quase totalidade dos casos voltando ao domínio do capital estrangeiro, este como já vimos desinteressado de nosso desenvolvimento interno, para manter-nos como consumidores dos produtos de seu país de origem e vendedores de matérias primas a custo irrisório.
        Para os desavisados que sustentam a necessidade de minimizar a presença do Estado na economia, há que se recomendar, como mínimo, que essa entrega já acontecida de nosso patrimônio, ao menos,   tenha uma regulamentação rígida, com a imposição de investimentos satisfatórios, pena de voltarmos aos erros que já vivemos.

Texto de autoria do Dr. Said Halah, escrito em 2015, e que trata de uma assunto tão importante e atual.

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